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Mulheres

Todas as formas de violência às mulheres apresentaram crescimento acentuado no último ano, indica pesquisa

Os dados são da pesquisa "Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil" e foram disponibilizados na última semana.


O Brasil ficou mais violento para as mulheres. De agressões, xingamentos e estupros, em casa, no ambiente de trabalho ou nas ruas: todas as formas de violência às mulheres apresentaram crescimento acentuado no último ano. Ao todo, cerca de 30% das brasileiras foram violentadas em 2022. A cada minuto, 14 delas eram agredidas de alguma forma no decorrer do ano. A quantidade de mulheres que sofreram algum tipo de violência daria para encher todos os dias o estádio Fonte Nova.

Os dados são da pesquisa "Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil" e foram disponibilizados na última semana. O levantamento foi realizado pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Em números, houve um aumento de 10% dos casos em relação a 2021. No entanto, para o FBSP há um diferencial que torna o cenário ainda mais alarmante, o crescimento agudo de formas graves de violência física, que podem resultar, mais facilmente, em morte.

Na Casa Preta Zeferina, ocupação por casa de referência contra violência à mulher, situada no bairro de Santo Antônio, em Salvador, o aumento foi sentido expressivamente. O centro, que oferece atendimento gratuito a mulheres agredidas, reportou crescimento dos casos que envolvem violência física e psicológica.

"Percebemos aumento da procura no último ano tanto de mulheres que não nos conheciam, como daquelas que já tinham entrado em contato, mas desistiram no meio do processo. Houve muito retorno pedindo ajuda porque as agressões não pararam", conta Milena Rocha,coordenadora do centro, que relatou ter sido necessário ampliar o quadro de profissionais da casa para que fosse possível suprir as demandas.

Espancamentos, socos, chutes e mordidas são as ocorrências mais reportadas pelas mulheres que chegam à Preta Zeferina. Esse tipo de violência tem se tornado mais frequente em todo o país. 3,5 milhões de brasileiras foram espancadas ou sofreram tentativas de estrangulamento, em 2022, de acordo com o mesmo estudo. É um aumento de 118% em relação ao ano passado.

Mulheres pretas e pardas

As vítimas de violência têm gênero e, principalmente, raça. As mulheres negras, que eram 53% do total de agredidas, em 2021, se tornaram 65%. Há um perfil muito específico da maioria das que sofrem. Elas são pretas ou pardas, não possuem alto grau de escolaridade, nem de renda e dependem financeiramente de uma figura masculina, seja marido ou pai.

"As mulheres negras possuem o corpo hipersexualizado, são tratadas de uma forma desumanizada e isso reflete muito no porquê de serem mais agredidas. Além disso, elas estão na base da pirâmide social e de classe, o que faz com que exista uma falta de acesso a diversas informações importantes sobre quais são os tipos de violências", explica Milena.

É difícil apontar uma causa única para o aumento dos casos, o machismo e a misoginia ( aversão às mulheres) permeiam a sociedade e influenciam em seus mais diversos aspectos. No entanto, há um fator considerado central pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: o sucateamento das políticas públicas durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ano de 2022 foi o de menor alocação orçamentária para o enfrentamento da violência contra mulheres na última década . E, como é enfatizado pelo relatório da pesquisa, "sem recursos financeiros, materiais e humanos não se faz política pública".

Com a falta de financiamento, as iniciativas são insuficientes e, muitas vezes, as poucas que existem, não funcionam de maneira cuidadosa. "Precisamos de muito mais casas de referência, casa abrigo e locais de iniciativa para a emancipação da mulher. Mas, além disso, precisa de qualidade também nesses espaços. São frequentes os relatos de mulheres que não são acolhidas, que têm suas questões e denúncias minimizadas", lamentou a coordenadora da Casa Preta Zeferina.

Também intensificada durante o governo Bolsonaro, a ação política de movimentos ultraconservadores, que atacam a inclusão de questões relativas à igualdade de gênero - associada à expressão pejorativa "ideologia de gênero" - no debate público, se relaciona ao aumento do desrespeito e ódio às mulheres.

(Fonte: Jornal Metrópole)

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