A pandemia acabou, mas a covid-19 não desapareceu. Apesar do distanciamento de período crítico, ainda tem gente que morre por causa da doença. Só este ano, de 1º de janeiro a 12 de setembro, 280 pessoas morreram por covid-19 na Bahia, sendo 155 homens e 125 mulheres, de acordo com dados da Central Integrada de Comando e Controle da Saúde - Covid-19 da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). Deste número, cerca de 21% corresponde a pessoas que morreram com menos de 60 anos, sendo que 10 vítimas tinham entre 10 a 30 anos.
A maioria dos óbitos aconteceu em Salvador (aproximadamente 60% dos casos), onde foram registradas 164 mortes este ano. O levantamento também aponta que 194 das pessoas mortas pela doença em 2023 apresentavam comorbidades, como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares e obesidade.
De acordo com a diretora da Vigilância Epidemiológica do estado Márcia São Pedro, a letalidade da doença este ano é de 0,77% no estado, que alcançou o número de 2% em 2020, no auge da pandemia, e o perfil das vítimas são os mesmos: pessoas acima de 80 anos que apresentam comorbidades como hipertensão, diabetes, doença renal crônica, doença cardiovascular e obesidade.
Das 279 pessoas que morreram em decorrência da covid-19, sessenta não apresentaram um histórico de doenças sistêmicas. "A tendência é de que pessoas com comorbidades, quando pegam vírus respiratórios, sejam comprometidas, porque há algo que é sistêmico e possibilita um agravamento maior", explicou.
Perfil
Em relação ao número de contaminados, a Bahia registrou 9.841 casos confirmados entre 1º de janeiro e 30 de agosto. Nesta lista está a jornalista Bruna Castelo Branco, 29, diagnosticada com covid em maio. Apesar de ter completado todo o ciclo vacinal, inclusive com a bivalente, e usar máscara de proteção diariamente, a comunicadora não escapou. "Não estava esperando pegar covid naquele momento, até porque eu não saía de casa sem máscara. Foi uma surpresa", disse Castelo Branco, que já havia contraído o vírus duas vezes em 2022, nos meses de junho e dezembro.
A fisioterapeuta Mariza Souza, 34 anos, também testou positivo para a doença. A profissional da Saúde descobriu no último dia 29, por meio de um teste rápido, feito em casa, três dias após apresentar sintomas como dor na garganta, tosse e congestão nasal. "Senti indignação quando descobri. As pessoas não estão testando mais, dizem que é virose e continuam a frequentar os ambientes sem qualquer cuidado", explicou Souza, que é diagnosticada com a doença pela terceira vez. Os últimos diagnósticos aconteceram em 2021 e 2022. Felizmente, os quadros de Mariza não foram graves.
A comediante e atriz Tatá Werneck também foi diagnosticada com covid-19, no último dia 29. Conhecida por cumprir as recomendações sanitárias desde o início da pandemia, essa é a primeira vez que a artista testa positivo para a doença. Com o resultado, ela precisou ser afastada temporariamente das gravações da novela Terra e Paixão, da TV Globo.
A diretora da Sesab explicou que as vacinas concedem imunidade, mas isso não significa que as pessoas deixarão de contrair o vírus. "A vacina reduz as taxas mortalidade e agravamento, evitando que a pessoa apresente um quadro grave e venha a óbito. Uma pessoa vacinada pode ter covid, mas de uma forma mais leve", pontuou.
O CORREIO entrou em contato com a Secretaria Municipal de Salvador (SMS), para repercutir o número de óbitos por covid na capital baiana, mas não obteve sucesso.
Vacinação
Mais de 31 milhões doses foram aplicadas em todo o estado, desde o primeiro de vacinação, 19 de janeiro de 2021, até 31 de agosto de 2023 – número que corresponde a 89,8% das doses distribuídas nas unidades de saúde da Bahia. Mais de 12 milhões (94,94%) tomaram a primeira dose, 10,94 milhões (85,95%) tomaram a segunda, 7, 83 milhões (61,52%) receberam a primeira dose de reforço e apenas 3,48 milhões (61,49%) retornaram às unidades para o segundo reforço.
A preocupação da Sesab no momento é a baixa adesão à vacinação pela bilavente, responsável por garantir uma cobertura maior sobre a variante Ômicron. Ainda conforme Márcia São Pedro, apenas 12,75% receberam essa quinta dose. "Vírus respiratórios sofrem mutação, por isso muitos casos de covid ainda acontecem. Se eu não tenho uma cobertura vacinal que me garanta uma certa imunidade, eu posso estar susceptível", disse São Pedro.
Em Salvador, mais de 7 milhões de pessoas foram vacinadas. No entanto, das 2,25 mi que completaram o ciclo vacinal básico (primeira e segunda doses), apenas 473 mil tomaram a bivalente.
Nova variante tem disseminação mais fácil
No mês passado, o Ministério da Saúde informou que o primeiro caso brasileiro da nova variante da covid-19, a Éris, foi confirmado em São Paulo, em um laboratório privado e que o "caso segue em investigação pela equipe de vigilância estadual e municipal". De acordo com o g1, Rio de Janeiro, Santa Catarina e o Distrito Federal também registraram casos com a variante. De acordo com a Sesab, a Bahia não registrou contaminados pela Éris.
De acordo com Carlos Brites, professor de Infectologia e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Infectologia no Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), até o momento, a variante não apresenta sinais de maior gravidade, no entanto, ela é transmitida com mais facilidade. "Como todas as variantes até agora, ela pode ocasionar complicações em pacientes com fatores de risco, de modo semelhante ao observado durante toda a pandemia", explicou Brites.
Ainda conforme o especialista, equipes de pesquisadores já sequenciam as cepas daqui, para monitorar os casos baianos. Isso também foi confirmado por Márcia São Pedro. Segundo a diretora da Sesab, unidades sentinelas coletam dados que contribuem na descoberta de novas variantes no estado.
Em maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à covid-19. No entanto, a decisão não pontua que a doença deixou de ser uma ameaça, portanto, os cuidados devem ser mantidos. O médico infectologista Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina, explicou que as medidas sanitárias continuam as mesmas: higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel; utilização de máscaras por pessoas que têm imunidade mais baixa e evitar colocar as mãos na boca, além de completar todo o ciclo vacinal.
"O vírus ainda circula em todo mundo e continua sendo uma ameaça justamente pela sua alta capacidade de mutação. O fim da pandemia não foi decretado, o que esperamos que aconteça futuramente. O número de contaminados é estável no Brasil, porém, acredita-se em uma subnotificação, uma vez que as pessoas que apresentam quadros leves já não mais procuram o serviço de saúde e os centros de testagem montados pelas prefeituras são poucos, além do uso de autotestes", pontuou Reis.
Fonte: Correio 24 Horas